A surdez congênita é a anomalia genética mais comum em cães e gatos. A surdez congênita (tanto em cães como em outros animais) pode ser adquirida ou hereditária.
É válido lembrar que a denominação congênito(a) é dada a tudo aquilo que se desenvolve durante o processo de desenvolvimento intra-uterino. Entretanto nem tudo tem caráter hereditário ou seja nem todas as anomalias adquiridas antes do nascimento são transmissíveis aos seus descendentes. Uma anomalia é dita congênita hereditária quando é oriunda da herança genética transmitida pelos pais.
No caso da surdez em cães, como o ouvido nesta espécie só termina seu desenvolvimento cerca de 3 semanas após o nascimento, qualquer filhote com menos de 6 semanas que apresentar surdez, esta será considerada congênita.
Entre as causas de surdez congênita adquirida pode-se citar infecções intra-uterinas, drogas com efeito ototóxico como por exemplo a gentamicina, doenças hepáticas, exposição a substância e fármacos tóxicos antes ou logo após o nascimento.
A surdez congênita hereditária pode ser causada por um defeito genético autossômico dominante ou recessivo, ligado ao sexo, de origem mitocondrial, ou pelo envolvimento de múltiplos pares de genes.
Em geral, é praticamente impossível determinar a causa, a menos que o problema seja observado nos pais ou que seja inerente a raça.
Segue abaixo uma listagem das raças em que a surdez congênita já foi diagnosticada, de acordo com o trabalho de Simeon & Monnerau. Se considerarmos entretanto a listagem publicada por George Strain este número sobe pra 85 raças.
Akita Inu | Husky siberiano | |||
American Starffordshire Terrier | Jack Russel Terrier | |||
Beagle | Kuvasz | |||
Bichon Frisé | Labrador Retriever | |||
Borzói | Maltês | |||
Boston Terrier | Pappillon | |||
Boxer | Pastor Alemão | |||
Buldogue Francês | Pastor Australiano | |||
Buldogue inglês | Pequeno Cão Lobo | |||
Bull Terrier | Pequeno Lebreiro Italiano | |||
Cão de Crista Chinês | Puli | |||
Cavalier King Charles Spaniel | Rodhesian Ridgeback | |||
Chow chow | Rottweiler | |||
Cocker Inglês | São Bernado | |||
Dálmata | Schnauzer | |||
Daschund arlequim | Setter Inglês | |||
Doberman | Springer Spaniel | |||
Dogo Argentino | Welsh Corgi Cardigan | |||
Dogue Alemão | Whippet | |||
Fox Terrier | Yorkshire Terrier |
Dentre as raças supracitadas, o dálmata é a raça com maior número de casos de surdez uni ou bilateral. Nos Estados Unidos, 1 a cada 4 filhotes apresenta o problema, na Europa, este número cai para 1 a cada 10 filhotes.
A surdez está normalmente associada com alguns padrões de pigmentação, onde quanto maior a quantidade de branco presente na pelagem, maior a incidência da patologia. Dois pares de genes responsáveis por pigmentação são particularmente associados a surdez em cães:
1) Locus M - gene Merle (ex. Pastor Australiano, Daschund Arlequim, Pastor de Shetland, etc)
2) Locus S - "piebald gene" (ex. Bull Terrier, Samoieda, Dálmata, Beagle, Cão de Crista Chinês, etc)
A surdez se desenvolve logo após o nascimento, quando o conduto auditivo ainda está fechado, como resultado de uma degeneração de parte do suprimento sanguíneo para a cóclea. Como consequência, as células nervosas da cóclea morrem levando a surdez permanente. A causa desta degeneração vascular parece estar associada a ausência de pigmentos produzidos por estas células (melanócitos) nos vasos sanguíneos.
É comum se ouvir relatos de que o animal precisa ter a orelha branca para ser surdo, contudo a surdez está relacionada a despigmentação na parte interna do ouvido e cor observada não serve como parâmetro indicativo da doença.
Diferentemente do que ocorre nos seres humanos, não há evidências de genes ligados ao sexo causadoras de surdez congênita.
A associação entre pigmentação e surdez hereditária não é observada apenas em cães. Defeitos similares são descritos em roedores, porcos, cavalos, gatos e humanos. A maioria dos gatos brancos de olhos azuis são surdos. Nos humanos, a síndrome de Waardenburg, é uma condição onde há presença de olhos de cores diferentes (heterocromia) e em geral observa-se uma faixa branca na barba e cabelo.
Nos cães, por existir mais de um gene recessivo relacionado a surdez atuando, nos indivíduos mestiços a identificação da origem genética do problema torna-se mais complexa.
Nos cães de pelagem Merle, a incidência do problema é bastante elevado. O gene M é dominante e o padrão de pelagem do heterozigoto (Mm) é desejável em algumas raças e difere do fenótipo do homozigoto (MM).
Cães de genótipo MM geralmente apresentam pelagem predominantemente branca, olhos azuis e frequentemente são surdos e/ou cegos, podendo inclusive serem estéreis. É aconselhável portanto não se acasalar dois cães Merle para evitar o nascimento de homozigotos dominantes. Neste caso a surdez não é nem dominante e nem recessiva mas está ligada a um gene dominante que afeta a pigmentação e secundariamente acarreta surdez em cães.
Falarei mais sobre a pelagem merle e os problemas associados com mais detalhes em um outro post.
Nos cães do tipo "piebald" (Sp ou Sw), como por exemplo os dálmatas, a transmissão da surdez é mais complexa.
Estes genes afetam a quantidade e a distribuição das áreas brancas no corpo. A surdez nos dálmatas não é autossômica dominante pois cães de audição normal podem gerar filhotes surdos. A questão se mostra ainda mais complexa quando se observa cães surdos gerando filhotes com audição unilateral e em raros casos, bilateral. Se fosse uma doença recessiva este tipo de situação não poderia ocorrer.
Tais achados só podem ser explicados se considerarmos a atuação de mais de um gene, ou seja dois ou mais diferentes pares de genes autossômicos recessivos, ou uma síndrome de penetrância incompleta. Existem vários genes ligados a pigmentação (ou melhor, a despigmentação) que comprovadamente ocasionam surdez em humanos e camundongos e acredita-se que nos cães ocorra de forma semelhante.
Deste modo, novos estudos ainda precisam ser realizados e assim que tiver conhecimento de algo novo sobre o tema estarei postando para que os criadores possam compreender melhor esta questão e tentarmos reduzir cada vez a incidência do problema na raça.
Até o presente, a melhor forma de se prevenir a surdez consiste ainda em não permitir que cães com o problema (mesmo aqueles com surdez parcial) acasalem e tenham filhotes.
excelente materia
ResponderExcluirExiste alguma cirurgia que melhore a surdez, nos casos dos dálmatas ?
ResponderExcluirBoa noite, tenho um cachorro Albino de olhos azuis mas é surdo.
ResponderExcluirExiste a possibilidade de ao acasalar com uma fêmea normal os filhotes saiam surdos ou com outros problemas????
Atenciosamente
Ricardo Massadas