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Dálmatas e Chinese Crested Dog

sábado, 20 de março de 2021

RELACIONAMENTO RESPONSÁVEL ENTRE HUMANOS E CÃES


       
foto: TootSweetCarole por Pixabay

    A relação do homem com os canídeos remonta da pré história. O cão tornou-se geneticamente distinto do lobo há cerca de 135 mil anos, o que corresponde aproximadamente aos primeiros vestígios do Homo sapiens no registro fóssil. A ação antrópica através da seleção artificial gerou inúmeras variações morfológicas, correspondentes à utilização bastante diversificada observada no cão doméstico na atualidade.
     A maneira como cães e outros animais são vistos pelos seres humanos foi se diferenciando à medida que sua capacidade subjetiva evoluiu e, aos poucos, foi se criando uma nova forma de relacionamento, marcada pela maior proximidade física e vínculos afetivos mais fortes entre as duas espécies.
      O cão vem sendo incorporado como membro da família, o que implica em maior responsabilidade do ser humano com relação a estes, que passam a receber mais atenção e cuidados, tanto fisiológicos quanto emocionais. Na história da humanidade, talvez seja a época atual, devido às características o sujeito contemporâneo, que observamos uma maior dependência significativa emocional entre o homem e animal.
  Infelizmente, apesar da evolução deste relacionamento, muitas vezes ainda se observa uma hierarquia antropocêntrica, herança do pensamento aristotélico de superioridade, que dificulta a aceitação de novos conceitos, impedindo por vezes uma relação mais satisfatória para ambos os lados envolvidos.
 Diversos estudos mostram que os benefícios da relação dos cães com humanos são incomensuráveis, superando incontestavelmente possíveis riscos relacionados a zoonoses frequentemente  enfatizados por pessoas que repetem sem questionar conceitos arcaicos pré-estabelecidos.
   O objetivo do presente artigo é elucidar algumas dúvidas freqüentes sobre possíveis riscos do convívio entre cães e seres humanos em ambientes públicos com maior enfoque sendo dado a presença dos mesmos nas praias.
   A larva migrans cutânea (LMC) ou dermatite serpiginosa, conhecida popularmente como bicho geográfico, é causada pela forma larvar de helmintos da classe Nematoda, mais frequentemente por espécimes do gênero Ancylostoma. As espécies mais comuns são Ancylostoma duodenali (que parasita cães e humanos), A. braziliense (que infecta gatos) e A. caninum (observado em cães e gatos).  Apesar de normalmente apontado como único causador de LMC em praias e praças, o cão não é o único responsável. Além do Ancylostoma, outras espécies também podem ocasionar  a LMC, como por exemplo Bunostomun sp (parasita de bovinos) e o Strongyloides stercoralis (parasita intestinal humano, cosmopolita de alta incidência em crianças). Quando em contato com espécies não evolutivamente adaptadas ao organismo humano, este se torna um hospedeiro acidental. O parasita se desloca pela região subcutânea mas não se desenvolve e nem consegue completar seu ciclo de vida.
   Em cães, o Ancylostoma ocasiona anemia devido á hemorragia intestinal aguda ou  crônica. Ao penetrar na pele, a larva causa reações cutâneas como eczema úmido e ulceração nos locais da infecção percutânea, acometendo principalmente a região interdigital. A doença é mais observada em cães com menos de um ano de idade. Os filhotes também podem se infectar pela via transmamária ou transplancetária se a mãe for portadora desta enfermidade. É uma patogenia bastante debilitante e filhotes muito novos são mais susceptíveis devido às baixas reservas de ferro.
    Apesar de grave, a doença é facilmente tratável e pode ser evitada quando se adota o protocolo de vermifugação periódica. Os parasitas são sensível a grande maioria das drogas endoparasiticidas (vermífugos) disponíveis para venda em pet shops e lojas agropecuárias. Urge ressaltar que um cão vermifugado não elimina ovos nas fezes e que os cães infectados rapidamente apresentar-se-ão sintomáticos, sendo portanto uma enfermidade de fácil diagnóstico e tratamento.
   Uma questão geralmente pouco abordada é a relação parasita/hospedeiro. Em sua grande maioria existe uma especificidade nesta relação que é resultado de um longo processo evolutivo. Como exemplo pode ser citado o carrapato vermelho comum, Rhipicephalus sanguineus, encontrado apenas em canídeos e o Boophilus microplus, parasita exclusivo de bovinos.  Ambos não são capazes de se fixar e se alimentar em primatas (no caso o ser humano), mesmo que vivam no mesmo ambiente.
   De maneira análoga, temos uma ampla gama de helmintos, fungos e protozoários que são específicos da espécie humana, não sendo patológicos para o cão. Deste modo a probabilidade de um humano ser infectado por outro nas vias públicas, praias e parques é infinitamente superior que a de ser acometido por um patógeno oriundo de outra espécie. É importante também lembrar que com a evolução da medicina veterinária já se é possível controlar de forma eficaz problemas outrora graves, como a raiva, a leptospirose e a leishmanionse visceral, através de vacinação preventiva.
    Na sociedade atual o acesso a serviços veterinários e a tratamentos profiláticos vem crescendo exponencialmente. Ao se tornar parte da família existe uma maior conscientização e preocupação com a saúde e higiene dos animais de estimação. Um cão bem cuidado, que recebe acompanhamento veterinário, é vacinado e desparasitado regularmente não oferece risco à saúde humana, incluindo idosos e crianças, muito pelo contrário,
    No cuidado com crianças com câncer, a terapia assistidada com cães em hospitais tem colaborado para melhorar a autoestima, compensar déficits afetivos e estruturais, aumentar a concentração plasmática de endorfinas, melhorando a  qualidade de vida. Estudos revelam que a presença de cães não favorece o aparecimento de infecções oportunistas, mesmo considerando o estado de imunossupressão em que se encontram os pacientes.
    As conclusões obtidas por pesquisadores de diversas áreas de conhecimento corroboram com a afirmativa principal deste manuscrito de que animais saudáveis não oferecem risco à saúde e que a convivência  de cães e pessoas traz uma gama de benefícios sociais e terapêuticos, não havendo portanto razões para que não acompanhem seus proprietários em seus momentos de lazer, em praias, parques e praças.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, M.P. ; F. GATO & M.N. RODRIGUES. Utilização de terapia assistida por animais como ferramenta no tratamento de doenças humanas. Revisão. Pubvet Medicina Veterinária e Zootecnia, v12, n.1. p.1-7. 2018.

MORAES, H. S. & M.M. MELLO. A relação do sujeito contemporâneo e o animal doméstico. Anais Mostra de Iniciação Científica Curso de Psicologia da FSG, v1, n.1, p. 124-151. 2014.

MOREIRA, R. L. et al.  Terapia assistida com cães em pediatria oncológica: percepção de pais e enfermeiros. Revista Brasileira de Enfermagem, v.69, n.6, 2016.

NELSON, R. W. & C. G. COUTO. Medicina Interna de Pequenos Animais. Rio de Janeiro, Ed. Elsevier, 2010.

SILVA, D. P. Canis familiaris, aspectos da domesticação (Origem, conceitos, hipóteses). Universidade de Brasília, Monografia de conclusão do Cursode  Agronomia e Medicina Veterinária.  46p. 2011.


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